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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Agronegócios Agricultura puxa alta do PIB, mas infraestrutura limita crescimento PIB do setor cresceu 9,7% no 1º trimestre, a maior alta desde 1998. Custo logístico do agronegócio é de até 9% do PIB do setor, diz consultoria.


Filas de caminhões e montanhas
de grãos à céu aberto denunciam o
problema logístico que abocanha
parte da produção do país vindo
do agricultura. No primeiro
trimestre deste ano, o setor puxou
o crescimento de 0,6% do Produto
Interno Bruto (PIB) no primeiro
trimestre deste ano, expandindo
9,7% em relação ao trimestre
anterior, segundo dados divulgados
nesta quarta-feira (29) pelo IBGE.
A alta na agricultura foi a maior
desde o segundo trimestre de
1998, quando bateu 13,9%. Na
comparação com o mesmo trimestre
de 2012, a expansão foi de 17%, a
maior da série histórica do IBGE,
que tem início em 1996.
O resultado, no entanto, poderia
ter sido ainda melhor se gargalos
de infraestrutura fossem
resolvidos.
"Sem dúvida nenhuma, temos um
potencial de produção agrícola
grande que não se realiza por falta
de infraestrutura", diz o presidente
da Empresa de Planejamento e
Logística (EPL), Bernardo
Figueiredo, em entrevista ao G1 .
Ele aponta o prejuízo à economia
como razão para o lançamento dos
programas de concessão do
governo, que envolvem rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos, que
preveem investimentos de cerca de
R$ 200 bilhões.
Parte do crescimento do PIB foi
puxada pela produção de soja, que
subiu 22,8% no país e alcançou
81,5 milhões de toneladas, e pela
de milho, que aumentou 6,9% na
safra 2012/2013, para um recorde
de 78 milhões de toneladas,
segundo a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab).
A produção da soja cresceu mais
de 85% no Rio Grande do Sul,
superando 12 milhões de
toneladas. Nacionalmente, a área
plantada aumentou 10,7% e
atingiu o recorde de 27,7 milhões
de hectares no país, impulsionada
pela alta do preço no mercado
internacional, interno e pela
comercialização antecipada.
Poderia ter sido melhor
O resultado, no entanto, poderia
ter sido melhor, se não fosse o
custo e o desperdício que resultam
da falta de infraestrutura do país.
Segundo dados da consultoria
Intelog, especializada no cálculo
do custo logístico, entre 8,5% e 9%
de tudo o que é produzido pelo
agronegócio no país, ou seja, do
PIB do setor, é gasto para cobrir os
custos logísticos. Também por
conta da infraestrutura ruim, o
desperdício da safra de soja – com
perdas da lavoura ao porto – fica
entre 6% e 13% do que é colhido.
"Esse custo vem crescendo ano a
ano e comendo a produtividade
brasileira. O país vem perdendo
competitividade por absoluta
questão logística", diz o diretor-
presidente da Intelog, Paulo
Manzel, que aponta crescimento do
custo logístico entre 0,4% e 0,5%
ao ano.
O preço do frete, incluído no custo
logístico, subiu entre 30% e 40%
de fevereiro do ano passado para o
mesmo mês deste ano nas
principais rotas de escoamento de
soja, segundo dados da Escola
Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (Esalq-USP). O preço do
transporte por tonelada que sai de
Sorriso, no Mato Grosso, subiu 30%
em direção ao porto de Paranaguá,
no Paraná, e 42,6% em direção a
Santos, em São Paulo.
Para o coordenador do núcleo de
logística em infraestrutura da
Fundação Dom Cabral, Paulo
Resende, é certo que o problema
logístico reduz o tamanho do PIB,
já que eleva os preços do país e,
com isso, restringe as vendas. Um
dos indicativos é o maior custo em
relação aos Estados Unidos, nosso
principal concorrente no mercado
de soja, que chega a ser 50%
superior proporcionalmente à
receita das empresas, segundo o
núcleo coordenado por ele.
O problema logístico e a
dificuldade que ele traz para a
economia são apontados também
pela Conab. "Sabemos produzir tão
bem quanto outros países, mas não
temos competitividade quando o
produto sai da fazenda. Isso não é
nenhuma novidade, já é rótulo do
país, o problema é que está
demorando a mudar", diz o gerente
da área de avaliação de safras da
Conab, Francisco Olavo Batista de
Sousa.
Segundo ele, o alto custo de frete
para produtos de baixo valor
agregado, como a soja, freia um
maior aumento da área plantada.
A Associação dos Produtores de
Soja e Milho de Mato Grosso
(Aprosoja) indica que isso é
verdade principalmente quando se
trata do milho.
O gargalo logístico de exportação
também é apontado como uma das
razões para os preços estarem
subindo, segundo o relatório da
safra da Conab. Outros fatores são
os baixos estoques mundiais, o
baixo índice de plantio nos EUA e
a alta demanda da China pelo
grão.
Trava na produção
Há certo temor de que o aperto da
falta de infraestrutura coloque em
xeque a evolução conseguida. "A
infraestrutura ainda não travou,
mas travará, portanto uma
operação de guerra é necessária",
diz Resende, da Fundação Dom
Cabral.
O peso da agricultura vem caindo
em relação ao PIB. Segundo dados
do IBGE , a participação oscilou
entre 7,4% e 5,2% do PIB entre
2003 e 2012, sendo o menor nível
do período alcançado no ano
passado.
Figueiredo, da EPL, não vê risco de
travamento, mas aponta que o país
continuará tendo um custo
logístico elevado até que as
mudanças estruturais previstas nos
planos de infraestrutura estejam
concretizadas. "Não podemos criar
expectativa de que essa ação vai
surtir efeito em seis meses porque
não vai", diz.
Se no Brasil a maior parte do gasto
logístico do agronegócio é com
transporte de longa distância
(48,1%), nos Estados Unidos o
grosso da despesa vai para
armazenagem (40%). A falta de
locais para armazenagem dos grãos
no Brasil deixa o país refém de
vendas imediatas e impede, por
exemplo, a regulação de preços.
"Como o Brasil tem pouca
capacidade de armazenagem na
produção, então tem de escoar
rapidamente. Quando escoa tem de
usar transporte rodoviário, que é o
mais caro", diz Resende, da
Fundação Dom Cabral.
Figueiredo afirma que o governo
deve divulgar no curto prazo um
programa de armazenagem
estratégica que prevê uma rede de
armazéns voltados ao
descarregamento dos produtos
agrícolas e liberação dos
caminhões. A rede, segundo ele,
vai reduzir o tempo de
carregamento nas fazendas e
descarregamento nos portos.
Programas do governo
Ainda que não sejam vistos como
suficientes, os programas de
concessões lançados pelo governo
para incentivar investimentos em
infraestrutura e a MP dos Portos
trazem otimismo ao setor.
O programa de investimento em
logística prevê 10 mil quilômetros
em concessões ferroviárias, com os
quais o governo espera transformar
o modal rodoviário para ferroviário.
Figueiredo estima que a mudança
do modal rodoviário para o
ferroviário deve reduzir em 30% o
custo logístico do transporte de
longa distância.
No setor rodoviário, para o qual o
governo prevê resultado mais
imediato, está prevista a concessão
de 9 lotes de rodovias num total
de 7,5 mil quilômetros e com
investimento estimado em R$ 42
bilhões. Também estão previstos R
$ 54,6 bilhões em investimentos
em portos.
O ministério dos transportes diz
que os investimentos "já mostram
o potencial de resultados com
empreendimentos que visam
alterar a matriz de transportes",
apontando as ferrovias Norte-Sul,
de Integração Oeste Leste e
Transnordestina, e as hidrovias
Teles-Pires-Tapajós, Paraná-Tietê e
Araguaia-Tocantins.
"Não é dinheiro suficiente, nem
30% do que precisamos no curto
prazo, mas funciona como
impulsionador dos investimentos",
diz Resende, da Fundação dom
Cabral. Segundo ele, para reduzir
o custo logístico do país são
necessários por volta de US$ 80
bilhões por ano em investimentos
nos próximos dez anos, totalizando
quase R$ 800 bilhões.
Sousa, da Conab, é otimista, e crê
que os programas do governo
ajudem o setor a "tirar o pé do
freio". Mas aponta que é preciso
agilidade para tirar os projetos do
papel. "Chega a ser inexplicável
porque as coisas não andam nessa
área", diz.
Figueiredo diz que a dificuldade
dos projetos se deve ao tempo que
o país deixou de investir. "Só tem
uma saída para não travar, é fazer
(os projetos). Não tem plano B para
este programa. Cada ano é um ano
a mais para sofrer com este
problema. O diagnóstico todos
conhecem, o que está sendo feito é
mudar a atitude", diz.

Por Simone Cunha
Do G1, em São Paulo

Variação do PIB do Brasil no 1º trimestre de 2013

A economia brasileira cresceu 0,6%
no primeiro trimestre deste ano, na
comparação com os três meses
anteriores, segundo dados
divulgados nesta quarta-feira (29)
pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística ( IBGE ). O
resultado é exatamente igual ao do
crescimento do quarto trimestre do
ano passado. Em valores correntes,
o Produto Interno Bruto (PIB)
alcançou R$ 1,11 trilhão.
O crescimento do PIB do país nos
primeiros três meses de 2013,
contudo, veio abaixo do esperado
por economistas ouvidos pelo G1 ,
que estimavam aumento entre
0,8% e 1%.
Em todo o ano de 2012, a economia
do país cresceu 0,9% .
Na comparação com igual período
de 2012, a alta do PIB brasileiro
entre janeiro e março foi de 1,9%.
No acumulado dos quatro
trimestres terminados no primeiro
trimestre de 2013, o PIB registrou
crescimento de 1,2% em relação
aos quatro trimestres
imediatamente anteriores.
Agropecuária sobe 9,7%
O maior destaque foi a
agropecuária, de acordo com o
IBGE, com avanço de 9,7% – o
maior crescimento desde o
segundo trimestre de 1998, quando
a alta foi de 13,9%.
Em relação ao primeiro trimestre
de 2012, a alta na agropecuária foi
de 17% e, nesse caso, é taxa a
mais alta desde o início da serie
histórica, em 1996. O aumento
nessa comparação pode ser
explicado pelo bom desempenho
de produtos que possuem safra
relevante no primeiro trimestre e
pelo crescimento na produtividade,
salienta o IBGE, citando
crescimento nas safras da soja
(23,3%), milho (9,1%), fumo (5,7%)
e arroz (5,1%).
PIB no 1º trimestre
de 2013 por
setores
Indústria cai 0,3%
A indústria, porém, caiu 0,3% sobre
o trimestre imediatamente
anterior. A queda foi puxada pela
extrativa mineral, que registrou
recuo de 2,1%, diz o IBGE.
Os setores de construção civil e
eletricidade e gás, água, esgoto e
limpeza urbana registraram leve
queda de 0,1%. A indústria de
transformação, por sua vez,
registrou aumento de 0,3%.
Com relação ao mesmo período do
ano passado, a indústria contraiu
1,4%. A indústria extrativa, nessa
comparação, declinou 6,6%, afetada
pela queda na extração de
petróleo. A construção civil
também apresentou queda, de
1,3%.
A indústria de transformação caiu
0,7%. O resultado foi influenciado
pelo declínio da produção de
máquinas para escritórioo e
equipamentos de informática,
metalurgia, químicos inorgânicos,
produtos farmacêuticos, têxtil e
artigos do vestuário, diz o IBGE.
Serviços sobem
Os serviços cresceram 0,5% sobre o
trimestre imediatamente anterior.
O destaque foi o crescimento das
atividades de administração, saúde
e educação pública, com alta de
0,8%, atividades imobiliárias e
aluguel (crescimento de 0,7%),
comércio (de 0,6%) e serviços de
informação (de 0,3%).
Sobre o mesmo trimestre do ano
anterior, os serviços cresceram
1,9%. De acordo com o IBGE, todas
as atividades registraram variações
positivas no período. O destaque
foi o crescimento de 2,6% em
outros serviços, que engloba
serviços prestados às empresas, às
famílias, saúde mercantil, educação
mercantil, serviços de alojamento e
alimentação, serviços associativos,
serviços domésticos e serviços de
manutenção e reparação.
Os serviços de informação
cresceram 2,5%. O setor de
administração, saúde e educação
pública subiu 2,2%. Serviços
imobiliários e aluguel subiram
1,9% e intermediação financeira e
seguros, 1,5%. O comércio
(atacadista e varejista) e
transporte, armazenagem e correio
(que engloba transporte de carga e
passageiros) registraram expansão
de 1,2% e 0,3%, respectivamente.
PIB dos países no
1º trimestre de
2013
Investimento cresce 4,6%
A formação bruta de capital fixo
(taxa de investimento na produção)
registrou alta de 4,6% no primeiro
trimestre contra o quarto trimestre
do ano anterior, o maior
crescimento desde o primeiro
trimestre de 2010, quando a alta
foi de 4,7%.
Em relação a igual período do ano
anerior, o crescimento da formação
bruta de capital fixo foi de 3%,
após quatro quedas seguidas em
2012. A alta é justificada pela
expansão da importação e
produção interna de bens de
capital, diz o IBGE.
Consumo das famílias e do
governo
A despesa de consumo das famílias
cresceu 0,1% sobre o quarto
trimestre, praticamente estagnação,
e o pior desde o terceiro trimestre
de 2011, quando houve queda de
0,2%. Sobre o primeiro trimestre
do ano passado, registrou alta de
2,1% – é a 38ª variação positiva
consecutiva no tipo de comparação
e o menor percentual desde o
quarto trimestre de 2011, quando
também foi de 2,1%.
selo PIB 1º tri
consumo demanda
"Um dos fatores que contribuíram
para o resultado foi o
comportamento da massa salarial
real, que teve elevação de 3,2% no
primeiro trimestre de 2013. Além
disso, houve um aumento, em
termos nominais, do saldo de
operações de crédito do sistema
financeiro com recursos livres para
as pessoas físicas de 9,5% no
primeiro trimestre de 2013", cita o
IBGE, em nota.
A despesa de consumo da
administração pública, por sua vez,
ficou estável sobre o quarto
trimestre e cresceu 1,6% na
comparação com o mesmo período
de 2012.
Comércio exterior
Com relação ao setor externo, as
importações cresceram 6,3% e as
exportações caíram 6,4% sobre o
último trimestre do ano passado.
Sobre o mesmo período de 2012, as
importações – que contam
negativamente para o PIB –
cresceram 7,4%, mas as
exportações diminuíram 5,7%

Do G1, em São Paulo