BRASÍLIA - A tarefa de conduzir a economia está cada vez mais díficil. Medidas para incentivar o crescimento e controlar a inflação que antes garantiam bons resultados hoje não estão fazendo efeito. Essa dificuldade tem levado integrantes do governo a apontar para um fenômeno chamado “quebra estrutural das correlações das variáveis econômicas”. O termo complicado tem um significado simples: o governo não consegue mais resolver os problemas da economia com os remédios clássicos. Na visão de um técnico do governo que trabalha com previsões, não há mais previsibilidade no impacto de mudanças no câmbio, alterações nos investimentos e até mesmo da política fiscal. Ele destaca que o trabalho, agora, é entender essas novas relações.
— Antigamente, a gente sabia que o efeito de uma alta da moeda americana de x% seria de y%, mas agora, essa relação mudou e ninguém sabe mais nada — disse a fonte.
O economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda e um dos gurus da equipe econômica, endossa a tese dos técnicos do governo e afirma que a quebra das variáveis mostra que “ninguém sabe o que está acontecendo”. Ele destaca que economia não é exata e, nela, o passado não explica o futuro:
— O que difere a economia da física é que na física o átomo é burro. Na economia, o átomo é inteligente e ainda por cima vota.
Delfim usa como exemplo um trabalho de técnicos do Banco Central que mostra como algumas relações mudaram. Ele trata da dicotomia verificada na economia brasileira no período recente. Enquanto o setor industrial apresenta fraco desempenho e tem dificuldades para reagir, o mercado de trabalho encontra-se aquecido e cria pressões sobre a inflação.
— É bom porque os analistas vão ter mais humildade daqui para a frente — afirma Delfim.
Para outros analistas, no entanto, o que acontece hoje na economia brasileira é o resultado da falta de coordenação na condução da política econômica, o que provocou um desarranjo geral.
‘POLÍTICAS EQUIVOCADAS’
O ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman diz que não vê indícios de uma quebra estrutural. Ele considera que a economia estaria com respostas normais às políticas equivocadas do atual governo. E lembra que o país ainda tem um histórico muito curto de estabilidade econômica para reconhecer uma mudança real na estrutura das relações.
Segundo Schwartsman, o problema ainda é a coordenação de expectativas. Ele lembra que, no governo Lula, as previsões dos analistas eram confirmadas pelos números, ou seja, havia previsibilidade na economia. Agora, isso não existe mais.
— O que tem na economia brasileira é que está tudo difícil mesmo — afirma.
Para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, a tradução do termo quebra estrutural é simples: significa que a política econômica anda muito “suja”, ou seja, o governo tem feito estímulos contraditórios:
— Por um lado, há aumento de juros para frear o consumo e, por outro, o BC tenta injetar crédito na economia. Isso quer dizer que a política econômica está muito “suja” — destaca.
Na sua visão, o caminho é rever as fórmulas clássicas de avaliar a política econômica.
— Essa quebra estrutural não é vista só no Brasil, mas também em outros países que adotaram políticas não convencionais. Os modelos terão de ser revistos — afirma.
por :GABRIELA VALENTE MARTHA BECK
GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário